13/05/2013

ORGANIZAÇÕES LANÇAM MANIFESTO PELA HUMANIZAÇÃO DA COBERTURA MIDIÁTICA SOBRE AS MIGRAÇÕES NO BRASIL


ORGANIZAÇÕES LANÇAM MANIFESTO PELA HUMANIZAÇÃO DA COBERTURA MIDIÁTICA SOBRE AS MIGRAÇÕES NO BRASIL


Os(as) integrantes de associações e grupos de migrantes, de organizações de apoio às migrações e de movimentos sociais têm acompanhado com apreensão a realidade enfrentada pelos(as) imigrantes procedentes do Haiti e de países africanos na fronteira da região norte do Brasil e  pelos(as) imigrantes sul-americanos(as) em grandes cidades brasileiras, assim como a cobertura dada a essa realidade pela mídia brasileira e internacional que, tem assumido, em muitos casos, um tom de criminalização e alarmismo que não atende a princípios dos direitos humanos e não contribui para a inserção cidadã desses(as) imigrantes na sociedade brasileira.
O Congresso Nacional e diversos setores e organizações sociais vêm trabalhando em mudanças na legislação migratória brasileira na perspectiva de ampliação dos direitos dos(as) imigrantes que residem no país.  Essas instâncias defendem a criação de uma nova Lei de Migração que não reproduza o mesmo “espírito” do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80) atualmente em vigor que, herança da ditadura militar, distingue subcategorias de cidadãos(ãs) e pessoas com mais e pessoas com menos direitos. Para essa mudança, estão em tramitação no Congresso, duas propostas de emendas parlamentares que tratam sobre os direitos políticos dos(as) imigrantes (PEC 119/11 e PEC 25/2012).
Ou seja, setores do Estado e da sociedade brasileira têm se manifestado favoráveis a um novo paradigma para a legislação migratória baseado nos direitos humanos e no tratamento não discriminatório dos(as) imigrantes no atual contexto de incremento das migrações internacionais para o Brasil. Entendemos que, nesse contexto, as mídias têm um papel relevante e estratégico que pode ser exercido através de uma abordagem humanizada do fenômeno migratório que não contribua para reforçar situações de desigualdades, discriminação, racismo, xenofobia e violência em relação aos(às) imigrantes.
As entidades signatárias dessa nota, que atuam no atendimento e apoio dos(as) imigrantes e nos processos de formulação de políticas públicas orientadas às migrações transnacionais no Brasil, entendem que uma cobertura midiática comprometida com os direitos humanos das migrações transnacionais nos contextos nacional e internacional deveria estar atenta aos seguintes aspectos:
- A abordagem da migração como experiência sociocultural que envolve sujeitos e vidas humanas e não apenas como fenômeno de natureza demográfica ou estatística contribui para focalizar as migrações como tema e não como problema.
- Em notícias que informam sobre o aumento da chegada de determinado fluxo migratório, o uso de terminologias que relacionam a vinda destes(as) migrantes à ideia de invasão e avalanche contribuem para criar um clima de alarmismo e medo em torno do ingresso de imigrantes no Brasil.
- Do ponto de vista dos direitos humanos, todo(a) cidadão(ã) tem direito à livre circulação e residência e, nessa perspectiva, o uso de termos como ilegalirregularclandestino(a) e indocumentado(a), pode assumir uma conotação pejorativa.  Em notícias que exigem focalizar a situação de permanência do(a) migrante no país, é importante não confundir infração de natureza administrativa com infração de ordem criminosa a partir do uso de termos como “ilegal”.
- A relação, de modo generalizado, dos grupos migrantes, da condição de estrangeiro(a) ou da nacionalidade asituações de criminalidade, delinquência e conflito não contribui para a compreensão da complexa diversidade que constitui a realidade migratória contemporânea.
- Embora parte das migrações internacionais tenha motivações econômicas, a ênfase a aspectos relacionados unicamente às situações de carência e precariedade vividas pelos(as) migrantes e seus países de origem pode reforçar a associação entre imigração e pobreza e diluir a diversidade de situações, realidades e motivações vividas pelas pessoas que migram.
- Os(as) migrantes e os(as) representantes de suas redes, associações e organizações de apoio às migrações, e não apenas as instituições governamentais, podem participar diretamente como fontes de informação sobre a realidade migratória, desde que observados os cuidados necessários com aqueles(as) imigrantes que foram vítimas de tráfico de pessoas ou vivem a condição de refugiados(as).
- Os(as) migrantes são sujeitos de dinâmicas cotidianas de inserção na sociedade brasileira e podem participar como fontes de notícias não apenas de temáticas que tenham vinculação direta com a realidade migratória, mas em todas as que sejam de interesse da sociedade em geral. Uma atenção especial precisa ser dada aos(às) refugiados(as) e vítimas de tráfico de pessoas em termos de tratamento de imagem e conteúdo.
- O excesso de dados estatísticos sobre as migrações e o uso de cifras que quantificam as migrações no Brasil e no mundo tendem a destacar aspectos quantitativos em detrimento de aspectos qualitativos que contextualizam os processos migratórios. Além disso, esses dados excluem, muitas vezes, a presença e realidade de migrantes que não estão registrados(as) nos órgãos governamentais responsáveis pela migração. Especialistas que estudam a temática migratória podem contribuir para essa contextualização dos dados estatísticos no processo de produção das notícias.
- A inclusão ou ênfase, nas notícias, de referência ao grupo étnico, à cor da pele, ao país de origem, ou à religião, pode, em alguns casos, reforçar estereótipos e preconceitos sobre determinados grupos migratórios e nem sempre é necessária para a compreensão global da notícia.
Essas e outras orientações estão disponíveis, de modo ampliado, no Guia das Migrações Transnacionais e Diversidade Cultural para Comunicadores, publicação produzida por um grupo de pesquisadores(as) e integrantes de organizações migratórias brasileiras na perspectiva de contribuir com o trabalho realizado por comunicadores(as) e jornalistas na cobertura midiática das migrações. O Guia pode ser consultado e baixado gratuitamente em www.guiamigracoesdivcult.com

 São Paulo/Porto Alegre, 3 de maio de 2013.

Assinam:

Articulação Sulamericana Espaço Sem Fronteiras
Associação de Empreendedores Bolivianos da Rua Coimbra/SP
Associação de Imigrantes Paraguaios em São Paulo/Japayke
Associação Latino Americana de Arte e Cultura Andina/ALAC
Associação Latinoamericana de Micro, Pequenas e Médias Empresas/AlampymeBR
Associação Salvador Allende
Casa das Áfricas
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil/CGTB
Central Única dos Trabalhadores/CUT
Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante/CDHIC
Convergência das Culturas/Equipe de Base Warmis
Cooperativa dos Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em Vestuário e Confecção/ COEBIVECO
Coordenação Nacional de Entidades Negras – São Paolo/CONEN SP
Fórum Permanente da Mobilidade Humana do Rio Grande do Sul/ Porto Alegre
Fórum Social pela Integração e Direitos Humanos dos Migrantes no Brasil
Grito dos Excluídos Continental
Grupo Cultural Chile Lindo
Instituto do Desenvolvimento da Diáspora Africana no Brasil/IDDAB
Presença da América Latina/PAL
Projeto de Extensão Universitária “Educar Para O Mundo”/IRI-USP






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Cleyton Wenceslau Borges
CDHIC - Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante
(11) 2384-2275   (11)98622-5360

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